segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Uma breve explicação na formação de um Ego estruturado.


Segundo a teoria psicanalítica de W.Bion, onde Continente (Representante mãe) e Conteúdo (Representante bebê) , se faz à partir do momento em que o infante se direciona a mãe, seja através do choro, olhar ou mesmo do silêncio, direcionando a ela, elementos não entendidos para que a mãe possa traduzi-los e ao mesmo  tempo, retornar ao bebê em forma de continente como elementos Alfa. Ou seja, acalmar e fazer com que ele perceba que existe alguém ou algo que está ali para atender as suas necessidades.  Quando esse processo não ocorre de forma adequada, seja por dificuldade da mãe de se fazer continente em elaborar os conteúdos enviados pelo seu bebê, pode ocorrer um entendimento de total desamparo do bebê, iniciando à partir daí um sintoma, que irá surgir mais a frente podendo persistir para o resto de sua vida. Isso explicaria muito bem alguns casos de autismo, onde a criança não interage com o meio a sua volta, criando um universo paralelo, onde não existe o EU / TU, e sim EU e objetos inanimados, isso em função dos conteúdos enviados não terem sidos processados pela mãe e ao mesmo tempo não retornando como elemento alfa, ficando assim contidos no bebê como algo de grande ameaça, gerando  uma ausência do outro como objeto de amparo.
Segundo Bion, o que impede que ocorram sintomas, sejam eles de grande complexidade como o autismo e as psicoses, é o fato do sujeito bebê, ter uma mãe continente e ao mesmo tempo ser ele capaz de conseguir receber esses conteúdos alfa, elaborando para si a possibilidade da formação de um EGO bem estruturado. A isso Bion deu o nome de K (knowledge) que significa conhecimento. E  -K,  que seria o inverso, onde o sujeito não teria esse conhecimento ou a possibilidade de entendimento necessário para o formação de um EGO estruturado para sua existência dentro das exigências da civilização.
 O que fazer quando esse K não está presente após a primeira infância?
Seria através das sessões de psicanálise, onde o analista irá representar a posição de continente no lugar da mãe, interpretando os conteúdos  -K que serão enviados  pelo analisando através da fala. Esses conteúdos,  irão retornar ao analisando como elementos alfa sendo eles elaborados e criando assim um entendimento K necessário para uma existência satisfatória.

sábado, 6 de outubro de 2012

A psicanálise à distância. Uma realidade antiga e atual.


Em sua obra “ Análise de uma fobia em um menino de cinco anos” publicada em 1909, Freud apresenta um caso de um menino ( que ficou conhecido como o pequeno Hans) que nasceu em 1903 e fora acometido por uma neurose fóbica, devido ao seu complexo de Édipo em decorrência dos afetos de sua mãe e pela autoridade de seu pai, que apesar de atencioso, aos olhos do pequeno Hans era um obstáculo entre o amor dele e de sua mãe. O que se pode observar é que essa análise começa antes do menino completar três anos e perdura por cerca de dois anos aproximadamente. Mas a questão não é a idade e nem o tempo de duração e sim a forma como se fez. Naquela época o único meio de comunicação à distância entre as pessoas comuns eram através de cartas escritas em papel e que levavam semanas ou mesmo meses para que chegassem a seu destinatário. Pois bem, o pai do pequeno Hans era um médico aluno de Freud que residia na Gmunden (na alta Áustria) enquanto que Freud se encontrava na capital Viena. Sendo assim foi dessa maneira que ambos resolveram fazer uma análise da neurose em que se encontrava o menino.
       O que se pergunta é: Pode uma análise ser bem sucedida sem a presença do analisando junto ao seu analista?  Pois bem, no caso do pequeno Hans a análise se fez através de seu pai que tinha algum conhecimento das técnicas psicanalíticas de Freud, e que relatava fidedignamente os sintomas que Hans apresentava, e que eram muito bem interpretados pelo mestre. Conforme o menino ia crescendo seus sintomas iam mudando e no decorrer de toda a sua análise Freud apontava ao pai o porquê de cada sintoma que identificado era rapidamente tratado pelo pai e pela mãe no sentido de dar segurança ao menino, principalmente após o nascimento de sua irmã mais nova. Passados dois anos do fim de sua análise, Freud não soube mais do pequeno Hans, porém na primavera de 1922, um rapaz que leu seu artigo publicado veio se apresentar a ele dizendo que era o pequeno Hans  e que na época já havia completado dezenove anos e se tornara um rapaz forte e inteligente sem nenhum traço neurótico que o impedisse de levar uma vida normal. Para Freud isso foi muito bom, pois não sabia o que havia acontecido com aquele menino que tratara há mais de dez anos atrás
        Então, voltando à pergunta. Pode ou não uma análise ser bem sucedida à distância?  Ao meu entender, pode sim! Se em uma época em que os meios de comunicação eram tão difíceis e ineficientes, imagine hoje onde podemos estar frente a frente com nosso paciente através da tela de um computador. O caso do pequeno Hans é uma análise em que o analisando não estava diretamente relacionado com seu analista, porém foi através de seu pai que o enquadre analítico se fez em sua própria residência. Em um atendimento online, (via SKYPE, por exemplo) o paciente e seu analista fazem seu enquadre num duplo ambiente, onde o ambiente em cada qual se encontra passa a ser o set terapêutico. Se ficar, frente a frente em uma sala torna o enquadre mais íntimo, à distância o Eu / Tu se mantém, não impedindo que os conteúdos apresentados pelo analisando sejam interpretados por seu analista. Talvez a falta de um divã fosse uma desculpa para que não houvesse sucesso. Mas por que não deitar em um sofá ou cama sem olhar para tela  com a câmera apontada de  forma que o analista possa vê-lo enquanto ele analisando olha para cima. Ou face  a face via tela. Tudo é possível! O enquadre pode ser montado conforme achar melhor tanto analista como analisando, o que vem ser válido é que ocorra a análise seja ela presencial, seja ela à distância, pois as resistências e os mecanismos de defesa estarão sempre presentes em ambos os casos. O que ocorre é que  análise à distância pode ser a única maneira de se analisar uma pessoa que esteja com alguma fobia ou impossibilidade de se locomover até o seu analista, ou mesmo para aqueles que já estão em análise presencial e precisam viajar por motivos de trabalho ou familiar. As ferramentas tecnológicas estão aí! As Universidades já estão usando e graduando seus alunos via online. Não podemos,nós analistas, ficarmos de fora, como se isso não existisse. Freud com certeza usaria essa ferramenta caso a tivesse no início do século XX. E o  pequeno Hans iria com certeza interagir muito bem com ele através da tela de seu computador. 
Por: Luiz Fernando R. Alves

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