I - Introdução:
O presente estudo surgiu do crescente
número de mulheres vitimadas por seus companheiros, sejam eles maridos,
namorados ou até mesmo os nomeados amantes.
O que se tem observado é que nos
noticiários diários, bem como em determinados programas investigativos, o
número de mulheres atacadas diariamente por seus pares vem crescendo
significativamente em decorrência da fragilidade do sistema jurídico em
intervir de maneira eficaz na contenção desses atos insanos.
O que ocorre é que, o sujeito paranóico
tem como certeza, à sua verdade, verdade essa que na maioria das vezes não
condiz com a realidade. Pelo menos não com a realidade dos fatos. Mas isso não
interessa a ele, pois seu psiquismo foi estruturado de maneira que ele sempre
sabe, e a esse saber, ele não pode renunciar. Geralmente elege alguém para que
possa confirmar esse saber, ao perseguir a escolhida, essa não tem como
escapar, pois em sua defesa é matar ou morrer para aquela que está na sua mira.
O sujeito paranóico só se liberta dessa perseguição ao eliminar a sua causa,
que pode ser a companheira ou alguém de seu afeto.
II- A origem da paranóia
Para Freud a paranóia se
dividia em sintomas primários e secundários, onde à descrença e a projeção surgiam
em primeiro plano seguido de delírio como sintoma secundário para justificar
sua posição. Seu estudo com relação à autobiografia do magistrado Schreber,
onde o autor é acometido por delírios de perseguição, Freud observa que o
paranóico é alguém que tem um profundo interesse pelo mundo e que percebe que
esse mundo está alterado e então constrói uma teoria para o seu universo. Outra
de suas observações foi em relação a ruptura que a paranóia ocasiona nos laços
sociais de amizade e lealdade, onde a sua tendência homossexual se vê reforçada
e seu gozo surge no discurso.
O paranóico é o sujeito que se antecipa
aos fatos, para ele algo ocorreu ou está prestes a ocorrer, e ele não pode ser
pego de surpresa, sua concentração está no gozo do outro (perseguidor, amada),
ele possui uma certeza delirante, que pode ter sido sussurrada ou inventada por
ele mesmo.
A paranóia, a esquizofrenia e a melancolia
fazem parte das psicoses, diferentemente da neurose e histeria.
Em o seminário livro 17 “ O avesso da
psicanálise”, Jacques Lacan afirma que o paranóico está fixado em um
significante mestre, significante esse denominado de S1 que comemora a irrupção
do gozo e o S2 como uma interpretação delirante ele segue na cadeia de
significantes, S1,S2, ... Apesar disso, esse S1 aproxima a paranóia da neurose, fazendo com que ela se afaste da
esquizofrenia, que nesse caso não existe um significante mestre S1. Ao
neurótico cabe recalcar esse significante mestre, enquanto que na paranóia ele
é retido, ou seja, apesar de existir um S1 para ambos, eles se diferem na
identificação do sujeito.
Para o neurótico o nome do pai barra o
desejo da mãe: NP/DM, enquanto que para o paranóico o que prevalece é o desejo
da mãe DM, que irá se promover uma significação enigmática (X) DM/X, ou seja o
significante mestre S1.
É através desse S1 que ele se inscreve
como o um único, representante de todos os outros significantes, e estando
identificado a esse significante ele não faz o -1 em relação ao significante
nem ao gozo. Ele é o um no qual todos se referem e que está sendo observado por
todos, daí o caráter megalomaníaco do sujeito. Ele é o perseguido, o traído,
todos conspiram contra ele. E com esse saber, o sujeito em suas relações
pessoais delira, pois vive em um ambiente hostil, onde todos os traem e
perseguem. Existe sempre um olhar!
Conclusão:
São muitos os atos criminosos à partir do
delírio paranóico em que, muitas vezes promovem um apaziguamento delirante em
função de tentar lidar com o laço social. E na dificuldade de lidar com esse
laço, o sujeito paranóico comete o crime tendo como expectativa a ação da lei
em suplência ao Nome do Pai (NP) que barraria o Desejo da Mãe (DM) = NP/DM.
Essa lei jurídica que, pouco faz para proteger as vítimas do paranóico, seja
porque, não consegue ou por, pura falta de interesse em lidar com essa epidemia
social que vem crescendo assustadoramente no Brasil, mesmo com as medidas
protetivas e a Lei Maria da Penha.
Bibliografia:
FREUD,
Sigmund (1911/1913) O Caso Schreber Artigos sobre técnica e outros
trabalhos. In: Edição Standard brasileira das Obras Psicológicas Completas
de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: IMAGO, 1969 Vol. XII
LACAN,
Jacques (1955-1956) De uma questão preliminar a todo tratamento
possível da psicose. In: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Editor, 1998.
O Seminário – livro 23: O
Sinthoma [1975-1976]. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2007.
O
seminário – Livro 17: “O Avesso da psicanálise” – 1969-70- Jorge Zahar Editor-
1992.
Por:
Luiz Fernando Rodrigues Alves