terça-feira, 29 de dezembro de 2015

“Um saber que nada sabe” A psicose paranóica como estrutura do sujeito, tendo como tema o assassinato de mulheres.

I - Introdução:

   O presente estudo surgiu do crescente número de mulheres vitimadas por seus companheiros, sejam eles maridos, namorados ou até mesmo os nomeados amantes.
     O que se tem observado é que nos noticiários diários, bem como em determinados programas investigativos, o número de mulheres atacadas diariamente por seus pares vem crescendo significativamente em decorrência da fragilidade do sistema jurídico em intervir de maneira eficaz na contenção desses atos insanos.
     O que ocorre é que, o sujeito paranóico tem como certeza, à sua verdade, verdade essa que na maioria das vezes não condiz com a realidade. Pelo menos não com a realidade dos fatos. Mas isso não interessa a ele, pois seu psiquismo foi estruturado de maneira que ele sempre sabe, e a esse saber, ele não pode renunciar. Geralmente elege alguém para que possa confirmar esse saber, ao perseguir a escolhida, essa não tem como escapar, pois em sua defesa é matar ou morrer para aquela que está na sua mira. O sujeito paranóico só se liberta dessa perseguição ao eliminar a sua causa, que pode ser a companheira ou alguém de seu afeto.


II- A origem da paranóia

     Para Freud a paranóia se dividia em sintomas primários e secundários, onde à descrença e a projeção surgiam em primeiro plano seguido de delírio como sintoma secundário para justificar sua posição. Seu estudo com relação à autobiografia do magistrado Schreber, onde o autor é acometido por delírios de perseguição, Freud observa que o paranóico é alguém que tem um profundo interesse pelo mundo e que percebe que esse mundo está alterado e então constrói uma teoria para o seu universo. Outra de suas observações foi em relação a ruptura que a paranóia ocasiona nos laços sociais de amizade e lealdade, onde a sua tendência homossexual se vê reforçada e seu gozo surge no discurso.
     O paranóico é o sujeito que se antecipa aos fatos, para ele algo ocorreu ou está prestes a ocorrer, e ele não pode ser pego de surpresa, sua concentração está no gozo do outro (perseguidor, amada), ele possui uma certeza delirante, que pode ter sido sussurrada ou inventada por ele mesmo.
     A paranóia, a esquizofrenia e a melancolia fazem parte das psicoses, diferentemente da neurose e histeria.
     Em o seminário livro 17 “ O avesso da psicanálise”, Jacques Lacan afirma que o paranóico está fixado em um significante mestre, significante esse denominado de S1 que comemora a irrupção do gozo e o S2 como uma interpretação delirante ele segue na cadeia de significantes, S1,S2, ... Apesar disso, esse S1 aproxima a paranóia da  neurose, fazendo com que ela se afaste da esquizofrenia, que nesse caso não existe um significante mestre S1. Ao neurótico cabe recalcar esse significante mestre, enquanto que na paranóia ele é retido, ou seja, apesar de existir um S1 para ambos, eles se diferem na identificação do sujeito.
     Para o neurótico o nome do pai barra o desejo da mãe: NP/DM, enquanto que para o paranóico o que prevalece é o desejo da mãe DM, que irá se promover uma significação enigmática (X) DM/X, ou seja o significante mestre S1.
     É através desse S1 que ele se inscreve como o um único, representante de todos os outros significantes, e estando identificado a esse significante ele não faz o -1 em relação ao significante nem ao gozo. Ele é o um no qual todos se referem e que está sendo observado por todos, daí o caráter megalomaníaco do sujeito. Ele é o perseguido, o traído, todos conspiram contra ele. E com esse saber, o sujeito em suas relações pessoais delira, pois vive em um ambiente hostil, onde todos os traem e perseguem. Existe sempre um olhar!

Conclusão:
    
     São muitos os atos criminosos à partir do delírio paranóico em que, muitas vezes promovem um apaziguamento delirante em função de tentar lidar com o laço social. E na dificuldade de lidar com esse laço, o sujeito paranóico comete o crime tendo como expectativa a ação da lei em suplência ao Nome do Pai (NP) que barraria o Desejo da Mãe (DM) = NP/DM. Essa lei jurídica que, pouco faz para proteger as vítimas do paranóico, seja porque, não consegue ou por, pura falta de interesse em lidar com essa epidemia social que vem crescendo assustadoramente no Brasil, mesmo com as medidas protetivas e a  Lei Maria da Penha.

Bibliografia:

FREUD, Sigmund (1911/1913) O Caso Schreber Artigos sobre técnica e outros trabalhos. In: Edição Standard brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: IMAGO, 1969 Vol. XII

LACAN, Jacques (1955-1956) De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose. In: Escritos.  Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998.

O Seminário – livro 23: O Sinthoma [1975-1976]. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.

O seminário – Livro 17: “O Avesso da psicanálise” – 1969-70- Jorge Zahar Editor- 1992.


Por: Luiz Fernando Rodrigues Alves

terça-feira, 31 de março de 2015

Análise Terminável ou Interminável?

          Em seu livro,  “ O Trauma do Nascimento”, Otto Ranck tentou reduzir o tempo de uma análise, que segundo ele, toda a neurose vinha pelo trauma do nascimento, onde a mãe seria a repressão primeva e que, através da análise do trauma, o sujeito estaria livre de sua neurose. Essa sua teoria, não foi muito bem aceita pelo grupo psicanalítico da época e nos dias de hoje muito menos.
       Freud relata em sua obra Análise Terminável e Interminável (1937), que tentou acelerar a análise, como relata em sua publicação “ O Home dos Lobos” (1918), quando no início do século, faz uma análise de um sonho que seu paciente Sergey Pankejeff  tivera, onde o mesmo rememora uma cena primária do coito dos pais, o que gerou uma neurose infantil. Após essa descoberta, Freud encerra a análise e o paciente retorna a seu país de origem (Rússia). Anos mais tarde esse paciente volta com Freud, porém tinha se tornado um psicótico em decorrência da não continuidade de sua análise e em consequência da falência financeira do pós- guerra(1914-1918). Freud então, volta a atendê-lo,  até se refugiar em Londres com a família e também por causa de sua doença, deixando com seus seguidores,  a continuidade da análise do paciente, que veio a falecer em maio de 1979. Tendo inclusive, um livro publicado com o seu pseudônimo batizado por Freud de o Homem dos Lobos.
        Para Freud, a cura não é uma melhor adequação ao externo, e sim, na possibilidade de retroceder ao passado do sujeito e conhecer melhor as leis  fantasmáticas. Fazendo assim, uma nova leitura, para que  ele possa entender o que o assombra. O efeito dessa nova leitura irá gerar um novo fantasma, porém com maior grau de simbolização formado por deslocamento e condensação. Com isso, faz-se uma nova revisão, que a partir desse ponto, se percebe o interminável de uma análise. A análise é interminável, não dentro do enquadre analítico, onde o processo se esgota, mas sim, no processo da análise em que o sujeito deverá prosseguir utilizando o uso das interpretações na qual adquiriu com a sua experiência de analisando. É claro que para que isso ocorra se faz necessário que o analista tenha lhe entregue um código, o código no qual, o sujeito decifrou o seu enigma.


Por: Luiz Fernando R. Alves

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