O que posso dizer sobre o envelhecimento dentro de uma sociedade em que
a estética está em evidência, e que a velocidade de raciocínio rápido e
adaptação às mudanças tecnológicas diárias se fazem necessárias?
È simples você só envelhece se estiver sempre em desacordo
com o que de novo vier a surgir. Isso sim é envelhecer. É passar do
conhecimento para o desconhecido, simplesmente porque não quer se atualizar.
Na clínica psicanalítica o que observo é que o envelhecimento se faz à
partir do momento em que o outro nos diz: VOCÊ ESTÁ VELHO ! Isso pode ocorrer em qualquer fase da vida, mesmo na infância um colega
para implicar com outro pode fazer uso dessa frase e o sujeito acreditar. È óbvio
que essa repercussão se fará com muita mais eficácia se tiverem com mais de 50
anos. Então o que é envelhecer?
Na verdade envelhecer é um processo de
mudança que começa desde a fase embrionária até o momento em que finda a vida.
Porém só entendemos o envelhecimento quando alguém nos aponta e não quando
realmente o sentimos.
Os sintomas físicos do envelhecimento como dores, incapacidades,
limitações, tudo isso pode ocorrer em uma idade mais jovem, e nem por isso nos
sentimos velhos, a não ser que venha alguém e diga: VOCÊ ESTÁ VELHO! E VOCÊ ACREDITA!
É obvio que não estou querendo dizer que com o passar dos anos nós não
venhamos à envelhecer. Algumas pessoas já se sentem velhas ou
incapazes de determinadas tarefas e funções com 20 anos de idade, outras porém
podem continuar produtivas e eficientes até os 80 anos ou mais. Isso variando
com fatores genéticos, culturais e sociais. O grande problema desse conflito é
que o que se vende na mídia é que o sujeito não pode envelhecer na aparência, ou
seja, há de se manter jovem custe o que custar, caso contrário o sistema irá te
descartar. Porque Isso? Por que há uma necessidade de consumo de produtos
contra rugas, osteoporose, cabelos brancos e tudo o mais que possa se vender
para esse público que passou dos 50. Que bom que temos todos esses produtos
para nos mantermos aparentemente jovens. Mas não devemos esquecer que não
envelhecemos somente por fora e sim por dentro, tanto fisicamente como
emocionalmente, pois como disse existe sempre alguém para lembrar que: VOCÊ ESTÁ VELHO!
O que fazer para viver e entender a vida após os 50 anos?
Olha só! Como você está bem conservado! Nem parece que tem 60 anos! São essas as palavras gentis que ouvimos por
ai. Ora, que eu saiba bem conservado são os enlatados, o leite longa vida e o
bacalhau salgado. O que acontece conosco e que uns são acometidos por algumas
doenças ou não levaram suas vidas de acordo com seus mais profundos desejos e
outros não envelheceram tão rapidamente, pois tiveram outro entendimento no
decorrer de sua existência.
Uma das principais causas do envelhecimento psíquico se faz
logo após a aposentadoria, e para que isso não venha a acontecer se faz
necessário que o sujeito se programe e adie por mais tempo possível o seu
projeto de aposentadoria e mesmo depois de se aposentar não deixe de dar continuidade a sua vida produtiva, que pode ser dentro
da mesma profissão ou até mesmo inicializando uma nova, quem sabe até um sonho
não realizado, já que os filhos já estão criados e o tempo é mais disponível.
Mas para que tudo isso ocorra é necessário que se tenha um entendimento da
vida, o que seria isso? Seria um entendimento desde a sua concepção até o dia
de hoje. Mas como ter esse conhecimento se não me lembro de quase nada? Através
da psicanálise a princípio e de sua própria autoanálise mais adiante. E o que é
isso? Isso ocorre nas sessões analíticas e continua após com o próprio sujeito
se questionando e se autoanalisando como ele chegou até
aqui dentro de uma civilização exigente e caótica e mais, dentro de um contexto
familiar neurótico (nas melhores das hipóteses), pois quando esse contexto
familiar chega à psicose, a coisa é um pouco mais complicada.
Para Freud a psicanálise só poderia ajudar aquelas pessoas que ainda não
tivessem completado os 50 anos de idade, pois após esse período os conteúdos
infantis já não poderiam ressurgir nas sessões psicanalíticas e os traumas ali
instalados não poderiam ser solucionados. Bem isso foi há mais de 100 anos
atrás e a perspectiva de vida na época era em torno dos 60 anos de idade. Porém
nos dias de hoje (creio eu) que devido às mudanças ocorridas no século passado,
passamos a ter um entendimento melhor e uma liberdade muito maior que nossos
avós e bisavós, além de todo esse aparato farmacológico que nos mantém ativos
(física e mentalmente) por mais tempo. Na minha clínica de atendimento, não
vejo o porquê limitar a análise em qualquer fase da vida, desde que a pessoa
possa expressar seus desejos e anseios vividos ou não vividos, pois afinal de
contas ninguém vai passar por essa vida completamente realizada, mas também não
precisa sair dela sem ter tirado o mínimo de proveito. Certo? Atrevo-me até a
dizer que os desejos que muitas das vezes deixamos de lado (Princípio do prazer)* em função das exigências
familiares e sociais (Princípio da realidade)** só podem ser vividos
a partir de uma determinada idade, quando não estamos sobre a tutela de nossos
pais e nem com as obrigações diárias com nossos filhos.
Aí você me diz. Sim Luiz Fernando! Porém agora já envelheci e não tenho
mais aqueles atributos que tinha quando mais jovem.
Realmente, pode até não ter, mas possui uma liberdade e uma maturidade
invejável que somente aqueles que sobrevivem as loucuras da juventude podem
ter. Ou você acha que é todo mundo que envelhece? O que você prefere? Viver de
forma desordenada na juventude e findá-la prematuramente ou manter certo grau de responsabilidade sem deixar de viver a vida
chegando a uma idade mais avançada e usufruir de sua sabedoria e entendimento,
vivendo plenamente (cada qual dentro de suas limitações) os anos que lhe
restam? São essas as grandes perguntas e questionamentos da maioria das
pessoas. Mas para isso é necessário que se entenda e aceite as escolhas vividas
ou não dentro de sua existência e assumir perante a vida o caminho escolhido
não ficando refém da ESCOLHA BIFURCADA Y.
O que é escolha bifurcada Y?
A escolha bifurcada é quando o sujeito ao passar a meia idade ( por
volta dos 50 anos em diante) fica se questionando se sua vida não teria sido
melhor se ele não tivesse seguido o outro caminho da Y. Ora se em todo o momento em que acharmos que algo não saiu como
planejávamos formos usar esse tipo de estratégia psíquica para
justificar a possível escolha errada,não faríamos mais nada. Não existe uma
forma correta de acertar em todas as escolhas, por mais que tentemos nunca
acertaremos totalmente e mesmo que acertemos sempre ficará aquela dúvida se
fosse de outra maneira não seria melhor?